25.7.07

Da série MI BUENOS AIRES QUERIDO VI

Pois é, né, eu dizia que tudo tem volta.
Juro que não roguei praga.
Mas sei que os fucking american friends acabaram ficando bem gripados durante o dia. A aisha chorava de dor por causa de uma otite. e os guris com belíssimas dores-de-gargantas. Não desejei isso, mas... é a conseqüência de dormir com a bunda descoberta numa das noites mais frias de Bs As.... hehehehehehe

Bom, depois que eu já não ligava mais pra solidão, tinha novos conhecidos pra conversar de noite (depois daquele porrão fatídico do sábado só saí uma vez, numa boate q só tocava drum'n bass. nem preciso dizer que não fiquei meia hora lá dentro), já arriscava até um portunhol na rua, a hora de voltar pra casa chegou. Eu tava faceirinha por dormir sozinha no meu quarto, na minha cama maravilhosa de novo. mas acho chata a parte de dar tchau pras pessoas. mas tudo bem. banho tomado. mala pronta. check out feito. táxi na porta. Ezeiza aí vou eu!

Para evitar transtornos como o da vinda, saí bem antes do albergue. fiquei um tempão rateando no aeroporto. a vontade era de me jogar em qualquer canto e dormir. eu tava realmente cansada. mas sobe e desce, parei no segundo andar a olhar o aeroporto (por sinal horrível, né?) e fazer um balanço mental e solitário da viagem.

De repente alguém bate nas minhas costas:
- Você é Paula?
- Sim, sou.
Aquele rosto me era bastante familiar.
- José?

Lembram daquele casal de argentinos que eu contei que morou na minha casa por um tempo, fanáticos pelo Boca Juniors? E não é que depois de seis anos sem nunca saber notícia alguma eu encontro o Rosariense perdido em Ezeiza? Bah, foi muito legal! Legal saber que ele e a Laura continuam juntos, tão felizes, vida financeira ajeitada e com uma filhota de um aninho. Claro, e jurando que nunca mais vão viajar pedindo carona, inda mais pra tentar viver uma aventura no Brasil.

Putz, fiquei muito feliz mesmo. Nunca imaginei que pudesse encontrar nenhum dos dois lá. Eu tava indo pra Buenos Aires. Eles são de Rosario, distante umas 5 horas da capital. Minha mãe cogitou, mas não achei que pudesse acontecer.

Bom, minha viagem se encerrou de uma maneira muito legal. Mesmo. Agora tenho que dar um jeito de voltar lá! hrehehehehehehehehe

PS: Ah, lembram daquele cara, um noruguês que ajudei no albergue? Pois é, ele veio me visitar. Agora tenho um hóspede. Tá sendo divertido, as gurias ficam fazendo companhia pra ele eqto eu trabalho e de tarde ele tá frequentando aulas de português. É engraçado ver alguém aprendendo português... Bom, agora o dia que eu der uma banda na Noruega acho que tenho onde ficar, hehehehehehe

19.7.07

Antecipando abraços

Não tem como não ficar triste. Não tem como não ficar chocada. Não tem como não ficar com medo. Este desastre aéreo, mesmo tendo sido em São Paulo, foi muito próximo da gauchada. Não canso de falar com pessoas que conheciam alguém no vôo 3054. É uma dor próxima. Vi quatro telejornais hoje. Me emocionei em todos com a cena em que amigos e familiares recebem a confirmação da lista de passageiros. Dor.

Dormi mal. Pensei muito nisso. Assim que a notícia chegou, a minha primeira atitude foi mandar um sms pra quem costuma ir a São Paulo. Não queria tristes surpresas. E não tive. Depois disso rezei pra não ter ninguém conhecido, amigo nessa lista. E não tive. Nesse momento já respirei aliviada: 'não é comigo'. Mas essa sensação de alívio não durou um minuto. Imediatamente comecei a pensar em quem ligou e não teve resposta, nas pessoas que saíram em busca de alguma informação, naqueles que tinham certeza que seus queridos estavam naquele airbus.

Quanta gente que saiu pra trabalhar... o cara que tinha uma filhinha de três meses, se não me engano, e a mulher insistiu pra ele não viajar e mesmo querendo ficar foi cumprir o seu dever... toda aquela gente que embarcou emburrada (que saco ir pra SP de novo), aqueles que deram um tchauzinho mais que rápido, afinal já iam voltar, os adolescentes que disseram 'tá mãe, não precisa isso'...

Putz, a gente não sabe quando vai morrer. Por mais que depois que aconteça as pessoas que ficam sempre dizem 'parecia que ele sabia...' E por não saber que tou escrevendo. Por não saber que vim dizer algumas coisas. Já que não sei quando vai ser a minha vez, acho bom antecipar o dia do amigo, que é na sexta.

Queridíssimos amigos, AMO VOCÊS!!!!!!!! MUITO!!!!! Queria poder abraçar um a um agora! Dizer o quanto são importantes no meu dia-a-dia e como sinto saudades dos que não vejo! Queria rir das nossas histórias e agradecer por tudo que viveram ao meu lado! Mesmo as indiadas mais 'lei de murphy' foram ótimas! Vocês são parte de mim e do que eu sou! Essa coruja aqui vive num mundo muito mais colorido com vocês! Amo vocês! E abram os braços e sintam-se abraçados agora!


PS1: Minha família também entra nesse abração! São meu alicerce, meu porto, fundamentais. E no meu amor também. Tá longe, mas é parte gigante e importante da minha vida. Pra ele o abraço é de estalar as costas! Pensei muito em vocês com essa história do acidente e em como o mundo ia virar (desculpem o termo) um grande cocô sem vocês nele. Ou o quanto vocês sofreriam se meu nome estivesse naquela maldita lista.

PS2: falando em braços e abraços.... inda não é confirmado, mas se tudo der certo dia 8 de dezembro, às 13h20, será o dia do abraço mais longo, mais apertado, mais aliviado, mais esperado e mais amoroso do meu mundo.

13.7.07

Ouviram do Ipiranga...

Impressionante...
Esse é um país de violência, de miseráveis, de injustiças, de propinas, de superfaturamento...
Mas, porra, não consigo não me emocionar com o Hino Nacional. Fico abismada como essas competições esportivas mexem mesmo comigo...
Me arrepiei toda com o Maracanã inteiro cantando...
Não adianta, nessas horas esqueço de tudo e penso que é um país lindo, de gente bonita, de gente feliz, de gente aguerrida e de uma diversidade cultural maravilhosa...
De tempos em tempos é bom dar uma olhada no lado bom da não-tão-velha terra brasilis...

12.7.07

Da série MI BUENOS AIRES QUERIDO V

Bom, lá vamos nós de novo.

Logo que cheguei em Buenos Aires ainda tava meio chateada da coisa de fazer tudo sozinha. Bom, com o tempo a gente acostuma. E se é só assim que a coisa rola, a gente dá um jeito de gostar.

Caminhadas, caminhadas, caminhadas. Saía da avenida de mayo e ia a palermo, dava voltinhas na recoleta, olhava o mapa pra ver o que tinha de interessante a ser visitado e... pernas pra que te quero!

Também já não estava tão travada pra conversar com a galera (sóbria). Já tava parecendo a bandeira do divino do albergue: todo mundo sabia o meu nome, alguns só me chamavam de brasileira, outros entenderam a piada e berravam um sonoro 'owl' qdo queriam bater um papinho.

Mas como tudo que tá bom pode ficar ruim...

Esse tinha sido o dia mais gelado da minha estada portenha até agora. E antes dessa neve dessa semana, o dia mais frio. E eu faceira caminhando na rua! Mas era muuuuuuuuuuuuito frio! E claro que eu não tava com roupas suficientes... claro q eu não tinha um hidratante... e claro que nem manteiga de cacau ou coisa que o valha. Passando em frente à 'flor' na praça grécia senti que algo se instalava em mim! Era a maledeta gripe! Era de graça mesmo... resolvi pegar uma!

Voltei pro albergue virada num bagacinho... Cheguei e deitei. Não tive disposição pra fazer mais nada. Sentia como se tivesse sido atropelada por um caminhão que, não satisfeito, deu ré e passou por cima de novo. O que me fez concluir que eu sempre fico doente quando viajo! No Rio ano passado foi a mesma coisa! Eita lembrancinha de viagem danada de ruim!

Dormi um pouco e fui pro boteco do albergue. Chegando lá o guri que atende já se atencipou:
- Una Stella!
- No, un jugo… sin hielo

A gripe pegou mesmo. Fiquei um tempinho ali e não conseguia nem pensar em sair pra rua. Tava todo mundo meio parado mesmo... claro, menos meus queridos roommates... eles se foram pra festa! Beleza, eu teria uma boa noite de sono pra curar o gripão.

Umas 3h acordo com o barulho de um dos habitantes do meu quarto chegando e deitando. Faltavam dois. Umas 5h acordo com barulho de risadas e tropeços e coisital. Olho e três pessoas entram no quarto. Me viro e vou dormir. Opa! Três? Mas faltavam só dois...

Tinha uma menina a mais. E ela tava bebacha. Parece gozação eu falando isso, mas não lembro de ter ficado naquele estadinho... Ela deitou na cama da aisha, q tratou de expulsá-la pra cama do josh (o cara que chegou mais cedo). Eles mal se conheciam, o guri acordou meio assutado e a garota já lhe tascou um beijo e convidou ele pra transar. E eu acordada, ouvindo e pensando: 'ai, meu deus, não sejam sem noção'... Pois é, mas eram. Qdo vi a aisha tava na cama do outro guri (coincidentemente a cama de cima do meu beliche) e o bicho pegando na cama do josh. Fiz uns barulhos pra ver se eles lembravam q não tavam sozinhos no quarto e tal, mas tudo inútil. Qdo vi que a coisa ia pras vias de fato mesmo me irritei e levantei. Gripão, 5h30 e nada de poder dormir.

Fui pro computador esperar o meu amor chegar do trabalho no japão. Mas tava puta da cara. E queria acordar pra falar com ele, mas me programei pra fazer isso às 7h, não às 5h30!!! E não por causa de um bando de americanos sem noção! Eu tava com uma raiva... Que acabou passando qdo falei com ele... a saudade era muuuuuito maior que a minha raiva!!! E fiquei feliz por poder passar horas conversando com quem amo.

Qdo era hora do amorzinho dormir, afinal ele acorda cedo, desci pro café da manhã. Quando voltei pro quarto vi quem era a tal menina... era uma que na noite anterior falava mal das brasileiras, dizendo que somos praticamente prostitutas, que transamos com todo mundo, que temos múltiplos amantes ('pq eu tenho uma amiga que já morou no brasil que me disse que é assim... uma orgia'). Eu nunca falei com a guria. Acho que ninguém disse q eu sou brasileira pra ela. Escutei aquilo tudo, mas tava tão doente que nem dei bola. Muita gente pensa isso mesmo. Agora, falar isso das brasileiras e se atirar na cama de um desconhecido pedindo pra transar, sinceramente... não dá, né?

Eles infernizaram minha noite doente de sono... mas tudo tem volta nessa vida, não é mesmo?

Continua...

8.7.07

o dia em que entrei pra estatística

Beira-Rio
10/09/2007
2º tempo
Inter e Santa Cruz
Gauchão 2007
"Favor comparecer ao estacionamento proprietário do fiat uno mille vermelho placas ijo 9349!
Era eu
Putz, dessa vez, era eu. Não adiantava fugir.
Será que eu tinha estacionado na vaga do cara que tava chegando no meio do segundo tempo? Não... Ué? Brigada? Gente? Pranchetas? Que é isso?
- Seu carro foi arrombado.
- Como assim???
Sai, eu olho ao vivo. A porta do carona parecia patrocinada pelo red bull. Criou asas. Ou melhor, asa.
Começo a chorar. Afinal tou no meu direito de mulher nervosa que tem o caroo arrombado e lembra de tudo que trabalhou e passou com o carro anterior para comprar esse.
- Tudo bem, pegamos em flagrante, a senhora tem de quem cobrar
- Como assim?????
Segundo 'como assim'. Porra, coloco no pago, na vaga dos camarotes, um 'cazzo in cullo' arromba o meu carro e nada acontece??? Pior! Tenho que cobrar do maginal, é isso???
Bom, o fato é que(encurtando um pedaço toprtuoso da história) a Estapar, concessionária do estacionamento do inter, pagou. Não, não ganhei ingresso pra nenhum jogo. Mas, como foi o cara preso em flagrante, o processo correu. E fui chamada pra audiência. Ingênua, eu.
Fui lá, com a mama junto, que foi só pela companhia. O guri apareceu. Com advogado particular, um tênis nike que pagava as minhas contas do mês e duas testemunhas de caráter pra dizer que ele nunca iria no beira-rio pra arrombar um carro.
Ele arrombou meu carro. Na DPPA ele disse que queria o rádio. Se frustrou pq meu carro não tinha rádio (tadinho, roubaram antes). Ele foi preso pq uma alma caridosa, um menino, um anjo viu ele com as mãos no carro e chamou a brigada, do outro lado da padre cacique. E os brigadianos, jovens e como jovens, agiram acreditando na justiça. Era foda ver na audiência eles falando que nada aconteceria, que pra eles era foda vir das férias pra testemunhar a verdade e saber que era um guri de merda que seria solto de novo, pq não tem antecedentes.
Eu tava lá, com minhas ilusões sobre a vida, a justiça e os direitos humanos. De repente a justiça foi pro espaço. Alguém pego revirando um carro, o mesmo visto abrindo carro com as duas mãos, procurando algo de valor, já que rádio não tinha, iria pra delegacia pra nada. Um guri da Popular. Um guri que tinha tênis mais valioso que toda a minha vestimenta junta. Guri que tinha mais dinheiro que eu qdo foi preso. Um guri com quase a minha idade. Um guri que não tinah terminado o primeiro grau. Ai, sou velha, desculpem, o ensino fundamental. Pq ele virou ladrão??? Pq eu virei jornalista???
Sei lá. Muitos motivos, como ele.
O fato é que minha ficha é limpa. Vou aos jogos do meu time pagando ingresso. Sempre (nem sempre pq quero, mas se quero vê-lo e esse é o preço, eu pago). Terminei o segundo grau com 16 anos anos. Fiz o vestibular com 16. Comecei a trabalhar muito antes disso. Nunca pensei que pegar algo de alguém fosse alternativa. No máximo alcançar pq caiu no chão. Sempre achei que direitos humanos era o que precisava um país que viveu o pior de uma ditadura. Mas vi que uma geração, ou duas, se aproveita disso.
E é nessa hora que eu largo o sistema judiciário de mão. É nessa hora que me junto a tantos, além da brigada e digo: a polícia prende, o judiciário solta.
Pior, não solta só o merda que arrombou meu carro. Solta tantos outros. Mais ainda. Solta quem compra uma bezerra a 300 mil num país de milhões de miseráveis sem desconfiar em momento algum. Sério, tem vezes que é difícil e triste ser brasileira...