23.1.12

A fase do parar de fumar

Vocês sabem que tudo na vida são fases. Tive a fase de escrever aqui direto, tive a fase do comendo de palitinho, tive a fase de trabalhar como condenada, tive a fase de só escrever na Bolsa de Pandora, tive a fase de emagrecer. Bem, agora a fase é outra: parei de fumar. Tou contando por lá as histórias, anseios e ansiedades mil!


Parei. E agora?

É impressionante como a gente se perde quando para de fumar. Não sei bem o que fazer com os dedos, como conversar, o que fazer com essa dor no peito. Parar de fumar dói. Isso ninguém nos conta. O que mais ouvimos são os discursos inflamados de como o cigarro nos mata e que se não largamos o vício somos sem-vergonhas. E depois do Dr. Chato Varella, a patrulha ficou muito pior. Ninguém nos diz como é parar, para além do é difícil; ninguém fala das crises de abstinência; ninguém diz que a gente fica tonto, que dá vontade de chorar e matar, numa espécie de TPM elevada à milésima potência. Ninguém diz que a gente sente dor nas juntas dos dedos.

Eu parei ontem. Prometi pra mim mesma que pararia este ano e seria logo depois do meu aniversário. Acho que se fizesse de novo, marcaria nova data, só pra poder aproveitar bem cada cigarrinho restante. Mas agora já foi. Adeus. Ontem, um domingo, fiz de tudo para não sair da cama. Deitada dá menos vontade de fumar. Dormindo dá menos vontade. E eu queria evitar a vontade. Mas daí deu fome...

Esse foi um lance estranho. Me deu fome. Só que depois de comer, MORRO de vontade de fumar. E tem que ser dois cigarros, que é pra fazer a digestão mesmo. Morri de vontade. O que conclui: well, quanto mais eu comer, mais vontade vou ter. E agora, José?

Ontem foi o dia de me testar mesmo. Tomei uma cerveja. Fiquei uns 40 minutos chorando sozinha com o copo na mão, enquanto minha cabeça lutava com ela mesma sobre o dilema de acender um cigarro ou não. E continuei nesse conflito quase até a hora de dormir, chorando e me segurando para não acender o cigarro.

Não acendi. Acho que posso dizer que este primeiro dia foi vitorioso.

Hoje, dia 2, dormi mal. Acordei de hora em hora. Ainda bem que eu estava dormindo com o namorado, que me abraçava forte todas as vezes em que eu pensava em levantar e fumar um cigarro. Ele estava lá. Isso fez a diferença. Passei a manhã inteirinha tonta, com dores no peito e até uma certa falta de ar. Paro e respiro fundo pra continuar. Tenho muita, muita vontade de fumar. Quase choro a todo instante. Tento pensar em coisas para fazer o dia inteiro, tentando tapear minha vontade de fumar. Tem momentos em que eu nem penso no cigarro, mas daí vem aquela dor de novo e eu sei que dor essa.

Estou fazendo o máximo para não usar os chicletes de nicotina. Quero colocá-los na boca quando eu tiver certeza que vou enlouquecer se não o fizer. Quero ser forte, mas não é fácil. O cigarro deixa um vazio, que não pode ser ocupado por uma pessoa ou uma nova diversão. O cigarro é a presença silenciosa, a companhia conivente, o momento de respirar. Alguém me ensina um jeito de ter isto sem o cigarro??